RONDÔNIA - Justiça do Trabalho participa de Sarau em Ji-Paraná pelo combate ao trabalho infantil

No último dia 4, a Justiça do Trabalho em Ji-Paraná/RO participou de um Sarau que teve o objetivo de incentivar a leitura e reforçar o combate ao trabalho infantil. O evento foi realizado pela Academia Rondoniense de Letras (ARL) em parceria com a Fundação de Educação, Cultura e Desenvolvimento Empresarial e Social (Fundação JI-CRED).
 
Com o auditório lotado de alunos da Fundação e integrantes da sociedade em geral, o juiz do Trabalho Titular da 1ª Vara do Trabalho de Ji-Paraná/RO, Carlos Antônio Chagas Júnior, assistiu a dramatização da crônica de sua autoria, intitulada "O Menino do Pirulito Azul". Na atuação do professor de teatro Roberto Carlos Lourenço, com grande interação com a plateia, a crônica retrata a triste realidade do trabalho infantil e suas consequências.
 
Na ocasião, a Academia Rondoniense de Letras lançou um concurso literário. Conforme informações disponíveis no perfil da ARL no Facebook, o tema será livre e "poderão participar do referido concurso todos os residentes no município de Ji-Paraná, sem quaisquer limites de idade e de escolaridade" - Clique para mais informações. 
 
A Coordenadora da Comissão Regional de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região, desembargadora Maria Cesarineide de Souza Lima, registrou a importância da iniciativa. "Uma ação que demonstra o comprometimento e o vigor de atuação dos magistrados das jurisdições de Rondônia e do Acre, no que se refere a essa importante causa", afirmou.
 
Além da desembargadora, integram a Comissão as gestoras regionais as juízas do Trabalho Titular da Vara do Trabalho de Plácido de Castro/AC, Christiana D'arc Damasceno Oliveira Andrade Sandim, e a Titular da Vara do Trabalho de Guajará-Mirim/RO, Soneane Raquel Dias Loura.
 
O Menino do Pirulito Azul
 
"Todos os dias era a mesma coisa. Às 5 da manhã o gato da vizinha gritava e arranhava a parede pedindo comida e ela jogava o resto de alguma coisa para ele parar de miar. Esse era o despertador do Juquinha. O menino então levantava, colocava sua roupa que na maioria das vezes já tinha usado quase a semana toda sem lavar. Calçava seu chinelo de dedos e ia até a cozinha. Sua mãe, que ainda não tinha chegado do trabalho no período da noite, normalmente deixava um copo com água e fubá na geladeira, que seria a primeira refeição do garoto. Ao lado já estava a bandeja com os pirulitos de caramelo que a mãe fazia, que seria a tarefa do dia. Aquele momento era desafiador, ver todos aqueles doces e tudo o que representavam. Já tentou vender de todas as cores mas o azul era o que mais tinha saída.
 
 
Depois de tomar seu café, pegava a bandeja e ia para rua. Tinha que começar cedo para conseguir um bom lugar no semáforo. A concorrência era grande. Ele já chegou a brigar feio por um lugar no sinal. Mas agora as coisas estavam mais organizadas, o Zecão colocava ordem em tudo e quem não respeitasse apanhava. É claro que tinham que cumprir a cota e vender certo número de doces, senão também apanhavam. E Juquinha não tinha muita força já que tinha apenas 10 anos. Era rápido e algumas vezes conseguiu fugir, mas os meninos mais velhos vigiavam as coisas para o Zecão.
 
No meio do dia, conseguia comer alguma coisa na venda do Manuel. Ele sempre dava um lanche para as crianças vendedoras em troca de algum favor: levar umas pacotes para alguém, vigiar os carros dos clientes entre outras coisas. Ele era um homem bom, inclusive se no final do dia não tivessem vendidos todos os pirulitos  ele se oferecia para comprar todos, mas os meninos tinham que deixar ele passar a mão nas suas pernas, o que eram muito estranho mas valia o sacrifício. Os mais velhos até entravam com ele em um depósito dentro da venda e vinham todos felizes com uma grana legal. Juquinha até tinha tinha vontade de ver esse depósito, sonhava comprar um sapato para sua irmã, mas não se atrevia, tinha medo.
 
A única parte triste do dia era passar em frente da escola. Ele via as crianças correndo para dentro apressadas, devia ser bom poder estudar e aprender coisas, mas ele não tinha tempo para essas bobagens, tinha que ajudar a sustentar a família. E o pirulito azul era o seu pote de ouro.
 
Voltava tarde para casa, e sua mãe já havia saído para trabalhar. A única forma de saber que ela esteve ali era a bandeja de pirulitos que ela deixava para ele e a marca de um beijo de batom em um guardanapo."
 
Secom/TRT14 (Colaboração da 1ª VT de Ji-Paraná)
Esta matéria tem caráter informativo, sem cunho oficial.
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