Íntegra do discurso de posse do desembargador Ilson Alves Pequeno Junior

Excelentíssima Senhora Desembargadora do Trabalho SOCORRO GUIMARÃES, a quem saúdo todos os juízes e desembargadores desta corte;

Excelentíssimo Senhor Procurador do Trabalho AILTON VIEIRA DOS SANTOS, Procurador Chefe da Procuradoria Regional do Trabalho da 14ª Região, na pessoa de quem saúdo todos os membros da Advocacia Pública;

Ilustríssimo Sr. ANTÔNIO BATISTA DE SOUZA, Presidente do Sindicato dos Servidores da Justiça do Trabalho, na pessoa de quem saúdo todos os servidores da Justiça do Trabalho da 14a. Região;

Ilustríssimos Srs. LUIZ ZILDEMAR SOARES e MARCIANO CARDOSO, representantes da OAB, a quem saúdo todos advogados dos estados de Rondônia e Acre.

Minha mãe querida, ALICE PIRES ALVES PEQUENO, a quem saúdo todos aqueles que assumiram o mandamento da paternidade e maternidade;

Minha amada esposa ALICE KEIKO TANAKA PEQUENO, a quem saúdo todos os cônjuges, companheiros e parceiros de caminhada;

Amados filhos ILSELENE, ISABELA, IANE e TIAGO, meus irmãos, meus netinhos JÚLIA E IGOR, sobrinhos, colegas de trabalho.

Saúdo todos os desembargadores, juízes e servidores aposentados desta casa,

Quero também saudar a todos os meus amigos. No entanto, peço vênia para não nominá-los nessa ocasião, pois a omissão de um deles seria para mim motivo de muito pesar, mas faço em nome de alguém muito especial.

Saúdo aquele que, nos meus momentos de dificuldades, em seu banquinho de praça, no jardim de sua casa, compartilhou comigo seus adjetivos da paternidade, emprestando sua mão para guiança, indicando-me estradas de prudência e ousadia para tomada de decisões no curso da jornada. Diplomado pela universidade da vida, tomei lições que a Faculdade de Direito do Recife e os anos de magistratura não me concederam.

Saúdo a todos os meus amigos na pessoa do Sr. Severino Coêlho.

Senhores jornalistas,

Minhas senhoras e meus senhores...

Glória a Deus.

É uma verdadeira dádiva, motivo de muito orgulho e humildade, poder me dirigir a inúmeros familiares, incontáveis amigos e companheiros de caminhada nesta noite de dezembro na condição de Presidente do egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 14ª. Região.

Nessas ocasiões, o mandamento divino é rendermos graças.

O dicionário nos ensina que compensar de modo equivalente é um dos significados enumerados para o vocábulo agradecer.

Na impossibilidade de assim proceder nesta solenidade, minha intenção é, inicialmente, reconhecer que esse momento de glória e inúmeros desafios futuros é o resultado do esforço comum, às vezes incalculável, de diversas pessoas queridas e amadas.

Sem a contribuição, por vezes silenciosa de companheiros de longas datas, e até mesmo daqueles mais recentes, o desafio e o aprendizado não teria sido completo, ou quem sabe até alcançado.

Cada um de vocês teve sua parcela de contribuição.

Seja na manutenção do lar fiel, compartilhando responsabilidades, dividindo comigo sua capacidade de produção e raciocínio, ou mesmo nos presenteando apenas com sua presença.

Receba meu mais sincero reconhecimento, gratidão e amor, minha esposa ALICE que ao longo desses anos, serviu de lente, escudo, muralha, fortaleza, travesseiro, palmatória, bálsamo e ninho, que possibilitaram minha chegada até este púlpito. Sou muito agradecido a Deus por ter-me presenteado com você.

Eu e minha Alice rendemos homenagens a todos aqueles que nos circundam, que se regozijam com nossas vitórias e aprendizados.

Sem vocês a vida não teria o mesmo brilho.

Sintam-se amados e recebam nossa sincera gratidão.

E, para aqueles que já não estão entre nós, a exemplo do meu amigo e genitor ILSON ALVES PEQUENO, que já regressou à casa do Pai celestial, nossa oração tem o perfume de elevada gratidão e homenagens, pois tenho certeza que seu coração nos alcança e vibra conosco em uníssono.

Não poderíamos deixar de dedicar esse momento ao Grande Magistrado, JEOVÁ ELOIM SABAOTH (Senhor Deus dos Exércitos e da Estratégia).

Entendo-me como diante de uma grande oportunidade, onde todas as possibilidades encontram-se em sua máxima potência, assim como o pequeno grão de semente já contém o carvalho.

Tudo o que eu sempre vivi, sofri e me alegrei enquanto servidor e magistrado encontram-se disponíveis para novas visitações.

Steves Jobs, certa vez, disse publicamente que já conseguia visualizar o iPhone antes mesmo dele sair da prancheta. Para ele o aparelho era tão real que ele já podia senti-lo.

Longe de me comparar a esse gênio do século, eu antevejo um tribunal sustentado por outros alicerces, vivendo sobre novos paradigmas.

Para mim isso é real e plenamente possível.

Saibam que eu não concebo essa realidade como sendo uma missão, pois, para Deus, pouco importa se o trabalho será feito por mim ou por um terceiro.

Apenas pretendo contribuir com o que há de melhor em mim, a partir de um lugar de muita honestidade e dedicação direcionada, amealhada em 26 anos de experiência neste Tribunal, dos quais 4 como servidor e 22 como magistrado.

É sobre isso que quero falar agora e, ao final, fazer um convite:

Caro Juiz Carlos Leonardo, nós trabalhamos juntos durante quatro anos e você sabe que eu tenho um sonho.

Meu sonho pode ser definido como ampliar o sentimento de pertença de todos os nossos, aproveitando todo o investimento já realizado pelos meus antecessores.

Pode ser definido também de estarmos em rede, conectados, em um ambiente fluido de interesses convergentes, cuja finalidade está além do que é visível e perceptível aos olhos, e além do espaço-tempo.

Em uma única frase: utilizarmos a benção que é nossa profissão e nossa vida, para crescermos enquanto seres humanos e, com isso, atingirmos nossos objetivos institucionais.

Eu explico.

Estamos vivendo um momento da história de muitas mudanças e redefinições.

O mundo se prepara e assiste transformações poderosas nos relacionamentos entre o homem e a natureza, o homem e as tecnologias e o homem consigo mesmo.

Natural que nessas fases de crises paradigmáticas existam distorções de todas as ordens, inclusive com a instalação de um aparente caos, criando-se um cenário propício para que novas posturas sejam tomadas a partir de uma consciência crística.

Todas as dimensões da nossa vida encontram-se influenciadas por esse novo padrão, que na verdade é biblicamente previsto.

Casamentos são desfeitos, famílias reclamam atenção, passamos cada vez mais tempo sentados, sem exercícios físicos, o estresse faz parte da nossa vida e ficamos cada vez mais tempo longe daqueles que nos são caros.

No Judiciário, por exemplo, vemos a construção de arquétipos que privilegiam a imposição de consensos, administrações voltadas para cumprimento de metas, ou mesmo o mascaramento da realidade pelo viés estatístico, na maior parte delas em prejuízo de uma justiça material.

Precisamos nos acolher com amor, pois, creio, a partir daí refletiremos em um maior cuidado para com a sociedade que nos remunera.

Para atingir tal intento pretendo ampliar os alicerces de uma política voltada para a meritocracia, onde todos serão plenamente cientes das regras do jogo e do que é necessário para atingirmos pretensões específicas.

Quero que todos os servidores e magistrados tenham à sua disposição o conhecimento do que é econômica e humanamente possível de se alcançar, por quais bússolas nos orientamos e o quanto de nós é preciso ser doado.

Precisamos, também, continuar sustentando o patrimônio moral que há 26 anos estamos lapidando. Refiro-me aos valores institucionais, pois são eles que garantem a solidez deste egrégio Tribunal Regional.

A Ética, a transparência, a celeridade,  a inovação, a probidade, a impessoalidade, a responsabilidade social e ambiental, a acessibilidade, o respeito ao ser humano e o  comprometimento.

Tudo pode mudar, porém, nossos valores são imutáveis. Esses nem o tempo, nem as intempéries, nem as dificuldades, nem as cobranças, nem os desafios, nem as dores, nem as nossas limitações, nem mesmo nosso sentimento de culpa, nada, nada mesmo, pode mudá-los.

Acompanharei cada passo a ser dado, pois sei onde estamos e aonde queremos chegar.

Para tanto, como primeiro ato desta presidência, declaro instalada a correição participativa, onde todos os servidores atuarão ativamente nas atividades correcionais, que serão processadas de maneira respeitosa, em um ambiente fraterno, tendo eu, ILSON PEQUENO, como o principal gerente desse projeto de mudança.

Ampliaremos o teletrabalho. Implementaremos o banco de talentos e a gestão por competência.

Declaro também instalada uma correição administrativa, que será realizada em todos os setores vinculados à alta administração, visando um fortalecimento geral do Tribunal.

Para sustentar essas iniciativas, administrarei o Tribunal a partir das unidades de primeiro grau. Serei um servidor de cada um diretor, técnico, analista e magistrado. Colocarei tudo que há à minha disposição, enquanto presidente deste órgão, para honrar o trabalho de cada um dos colegas servidores e de cada um dos colegas magistrados.

Creio que tal intento apenas será possível se estivermos de mãos unidas, com um mesmo ideal... Como disse, se estivermos interligados.

Portanto, peço vênia a cada um dos senhores para participar de suas rotinas, sentado na Secretaria ou assistindo audiência na condição de ouvinte.

Por gentileza, não se assustem se eu chegar de surpresa em uma unidade do interior dos estados de Rondônia e Acre perguntando se há um cafezinho para mim. Essa postura não terá qualquer cunho censório, intimidatório ou ameaçador.  

Almejo ser recebido por vocês como um servidor, como um de vocês, mas que alçou ao cargo de desembargador e presidente deste tribunal.

Desejo ser visto como um parceiro, alguém que está sensível aos problemas e dedicado a buscar soluções.

Pretendo também que cada um de vocês sejam críticos construtivos, para que possamos erigir algo mais acolhedor e de excelência, perceptível pelos jurisdicionados, nossa razão de existir.

Já estou implementando um programa onde toda e qualquer comunicação interna, ofícios/memorandos, sejam passíveis de rastreamento, para que cada um possa ter inteira ciência do respectivo andamento. Ninguém ficará sem resposta. Isso é um compromisso que assumo com vocês.

Teremos uma instituição mais entrosada, com setores que se comunicam, formando um todo harmonioso, evitando a aparência de secretarias estanques, aproveitando-se, ao máximo, os deslocamentos entre as diversas comarcas.

Contarei com o auxilio direto de quatro ex-diretores de secretaria: Diretoria Geral, Secretaria Geral da Presidência, Secretaria Judiciária e Secretaria da Corregedoria.

Entendam o significado desse movimento.

Percebam que é o primeiro grau atuando na inteligência de toda a instituição.

A partir daí vocês sentirão a tônica de nossa proposta.

Contem comigo para dividir suas lutas e sacrifícios, pois me coloco à pensarmos juntos uma instituição ainda mais forte, voltada para a atividade fim.

Nesse momento em que ampliaremos ainda mais a implantação do Processo Judicial eletrônico, por mais um motivo devemos estar atentos e dedicando nossas energias na construção de um novo modelo de agir.

Com o auxílio que nos trouxe o e-Gestão, SIGEST e tantos outros avanços no campo administrativo, conseguiremos ir mais longe.

E pretendo fazê-lo consciente das limitações próprias de minha humanidade e de que, sem Deus, em vão vigia o sentinela.

Também sei que não farei sozinho, pois, parafraseando o escritor Luís Fernando Veríssimo, "A verdade é que não fazemos filhos. Fazemos apenas o Layout, porque eles mesmos é que fazem a arte final".

A arte final será uma construção de cada um de nós. O tribunal sempre terá nosso estilo.

Confesso que o desafio inquietou meu espírito e a responsabilidade me furtou noites de sono.

Contudo, sei que não estou só.

Conto com Desembargadores que ostentam em seu currículo a experiência de ter assumido a Presidência desta Instituição e um vice-presidente que traz em sua bagagem o ativismo peculiar do Ministério Público do Trabalho.

Creio, Desembargador Cruz, que o Pai Celestial nos entrega o ambiente perfeito e as pessoas certas, no lugar certo e na hora certa. Agindo Deus, quem impedirá?

Os senhores podem até acreditar que eu sou um sonhador, mas posso lhes assegurar: eu não sou o único.

Continuarei dedicando minha capacidade produtiva com o amor que sempre dediquei ao meu trabalho,       "Porque quem ama nunca sabe o que ama
    Nem sabe porque ama, nem o que é amar
    Amar é a eterna inocência,
    E a única inocência, não pensar..."
como diria Fernando Pessoa.

Portanto, convido vocês a empreenderem essa caminhada, cujo objetivo é semear esperanças e transformações.

Porque caminhante, não há caminho. O caminho é o próprio caminhar.

Nunca tenha medo de tentar algo novo, pois, com Deus, um amador chamado Noé construiu uma arca, que perdurou durante todo um dilúvio, ao passo que, um grande grupo de profissionais diletos construíram o Titanic e todos os senhores... bem, todos os senhores, sabem o que aconteceu.

Ao final de tudo isso, pretendo ser mais digno de ti, Oh! Pai, firme na consciência de que, quando a partida de xadrez termina, o peão e o rei vão para a mesma caixinha.

Afinal de contas, se a vida fosse apenas um suceder de administrar Tribunal, proferir sentenças, votos, produzir, crescer e multiplicarmos, tudo isso se reduziria a muito pouco e eu entendo que a vida não passaria de um simples engodo.

Há algo mais por trás de tudo isso.

Administrar pode ser fácil, o que temos que fazer, enquanto magistrados, "é nos posicionarmos como senhores do nosso tempo, engajado pessoal e moralmente na missão de conferir sentido à vida dos nossos semelhantes," como dito na obra A Rebelião da Toga.

Esse cenário, na verdade, é familiar a todos nós.

Nosso engajamento, motivação e entusiasmo é por todos conhecidos, seja nos nossos projetos sócio-ambientais, ou no comprometimento dos magistrados e servidores na lida diária e com as Varas itinerantes.

É verdade que em diversos momentos as dificuldades nos convidou a traçar outros planos, mas nós mantivemos o foco, persistindo na esperança.

É verdade que algumas vezes fraquejamos, mas não desistimos.

Algumas vezes nós choramos, mas enxugamos as lágrimas e continuamos.

Algumas vezes, ficamos tristes, mas nos reerguemos, pois, tudo podemos Naquele que nos fortalece.

A verdade é que se deixarmos para atender nossos sonhos e compromissos quando tivermos tempo, quando estivermos mais dispostos, mais magros, quando a saúde estiver melhor, os filhos crescerem ou se casarem, nós não faremos nada? E nunca. Pois nunca conseguiremos alcançar o falacioso padrão de perfeição que o ego nos impõe.

Caros colegas magistrados, servidores, advogados, autoridades, parentes e amigos, com o coração cheio de gratidão e esperança quero dizer para os senhores que estou consciente do desafio, e pronto para o compromisso.

Como disse Dom Helder Câmara: Graça é começar bem. Graça divina é não parar. Mas a graça das graças é não desistir nunca.

Que Deus nos abençoe.


Ilson Alves Pequeno Junior
Desembargador do Trabalho

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