Justiça do Trabalho reúne no metaverso estudantes e indígenas para palestras de combate ao trabalho infantil

Evento coordenado pela 1ª Vara do Trabalho de Ji-Paraná (RO) mostrou como a tecnologia pode ser uma poderosa ferramenta de acessibilidade

Nesta terça-feira (7/6), como parte da Semana de Combate ao Trabalho Infantil, a 1ª Vara do Trabalho de Ji-Paraná (RO) deu continuidade aos eventos em seu espaço no metaverso, ocasião em que proporcionou a participação simultânea de dois municípios. Logo no início da manhã, a segunda vara trabalhista do universo da realidade hiper-realista reuniu estudantes da educação básica da Escola EEEMTI Brasília, localizada no bairro Embratel, em Porto Velho (RO), e acadêmicos de direito na sede física da vara em Ji-Paraná para uma palestra com o juiz do Trabalho Titular, Carlos Antônio Chagas Júnior.

Ao fazer uma reflexão sobre trabalho infantil e o contrato de aprendizagem, o magistrado relatou a euforia das crianças ao entrarem em contato com o processo imersivo do metaverso. “Foi um momento de pleno êxito, muito mais do que seria presencialmente. Ficaram eufóricas e estão aguardando novos convites”, revelou Carlos Chagas que declamou a crônica “O Menino do Pirulito Azul”, que retrata a triste realidade do trabalho infantil (confira na íntegra no fim da notícia).

Na sequência, o ambiente virtual recebeu representantes do povo indígena Suruí, sob a liderança de Gasodá Suruí, juntamente com procuradora do Trabalho, Michele da Rocha, que também é coordenadora Regional da Coordenadoria de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente. O encontro proporcionou debates sobre diversos temas relacionados ao trabalho infantil. No próximo dia 13, está programada uma edição do Justiça do Trabalho Vai à Escola presencialmente na tribo Suruí, ocasião em que haverá acesso ao metaverso.

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“Esse evento traduz a capilaridade e acessibilidade da Justiça do Trabalho, no coração da Amazônia, com o auxílio de ferramentas tecnológicas que fazem a Justiça, inclusive seus programas sociais, chegar onde seria muito difícil na modalidade presencial. É a tecnologia e a inovação ampliando o acesso à justiça”, enfatizou o juiz.

No período da tarde, Carlos Chagas e servidores promoveram uma roda de conversa com a Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em Ji-Paraná, onde foram tratados temas como o direito e provas digitais, metaverso e futuro das atividades jurídicas nesse mundo em formação. O momento contou também com a presença da juíza do Trabalho Titular da 1ª VT, Luisa Azevedo Brugnoli Ribeiro, e da juíza do Trabalho Substituta Marina Bretas Duarte Morais, que representou a 2ª Vara do Trabalho de Ji-Paraná, além de diversos membros da advocacia rondoniense.

Crônica “O Menino do Pirulito Azul”

Todos os dias era a mesma coisa. Às 5 da manhã, o gato da vizinha gritava e arranhava a parede pedindo comida e ela jogava o resto de alguma coisa para ele parar de miar. Esse era o despertador do Juquinha. O menino então levantava, colocava sua roupa que na maioria das vezes já tinha usado quase a semana toda sem lavar. Calçava seu chinelo de dedos e ia até a cozinha. Sua mãe, que ainda não tinha chegado do trabalho no período da noite, normalmente deixava um copo com água e fubá na geladeira, que seria a primeira refeição do garoto. Ao lado já estava a bandeja com os pirulitos de caramelo que a mãe fazia, que seria a tarefa do dia. Aquele momento era desafiador, ver todos aqueles doces e tudo o que representavam. Já tentou vender de todas as cores mas o azul era o que mais tinha saída.

Depois de tomar seu café, pegava a bandeja e ia para rua. Tinha que começar cedo para conseguir um bom lugar no semáforo. A concorrência era grande. Ele já chegou a brigar feio por um lugar no sinal. Mas agora as coisas estavam mais organizadas, o Zecão colocava ordem em tudo e quem não respeitasse apanhava. É claro que tinham que cumprir a cota e vender certo número de doces, senão também apanhavam. E Juquinha não tinha muita força já que tinha apenas 10 anos. Era rápido e algumas vezes conseguiu fugir, mas os meninos mais velhos vigiavam as coisas para o Zecão.

No meio do dia, conseguia comer alguma coisa na venda do Manuel. Ele sempre dava um lanche para as crianças vendedoras em troca de algum favor: levar uns pacotes para alguém, vigiar os carros dos clientes, entre outras coisas. Ele era um homem bom, inclusive se no final do dia não tivessem vendidos todos os pirulitos ele se oferecia para comprar todos, mas os meninos tinham que deixar ele passar a mão nas suas pernas, o que eram muito estranho, mas valia o sacrifício. Os mais velhos até entravam com ele em um depósito dentro da venda e vinham todos felizes com uma grana legal. Juquinha até tinha vontade de ver esse depósito, sonhava comprar um sapato para sua irmã, mas não se atrevia, tinha medo.

A única parte triste do dia era passar em frente da escola. Ele via as crianças correndo para dentro apressadas, devia ser bom poder estudar e aprender coisas, mas ele não tinha tempo para essas bobagens, tinha que ajudar a sustentar a família. E o pirulito azul era o seu pote de ouro.

Voltava tarde para casa, e sua mãe já havia saído para trabalhar. A única forma de saber que ela esteve ali era a bandeja de pirulitos que ela deixava para ele e a marca de um beijo de batom em um guardanapo.


Secom/TRT14 (Luiz Alexandre, com informações da 1ª VT de Ji-Paraná)

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